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HISTÓRIAS DA FAMÍLIA SCHÜÜR

Quando eu estava escrevendo sobre a vida da minha mãe Anny, muitas vezes lembrei de momentos que marcaram a minha vida, envolvendo os avós, tios e tias. Decidi de colocar algumas no papel para que outros possam ver e sentir como é linda família a qual nós todos pertencemos.

Por Anelise Wegermann Dick

Tia Clara...

Tia Clara é uma pessoa muito querida, bonita e muito admirada. Sempre foi muito organizada e caprichosa. É muito habilidosa, faz lindos bordados, crochê e tricot.

Tenho belas recordações da minha convivência com tia Clara. Hildegard e eu, aos 10 anos fomos visitar a família Zirr. Tia Clara nos levou, Hildegard, Helga, sua filha, e eu para a ¨Casas Pernambucanas¨ para nós escolhermos um tecido colorido para um traju de banho ( maillot) que ela depois costurou, com fio de elástico. Nós as três desfilamos no Ijuizinho, em alto estilo e muito orgulhosas, com os nosso lindos "maillots" confeccionados pela querida tia Clara.

Numa visita em Santo Angelo, na chácara do tio Volkmar no Ijuizinho, fiquei tempo demais no sol e levei uma "torrada". À noite, tive muita febre e estava delirando, tia Clara chamou um médico. Lembro de acordar e ver a tia Clara ao meu lado me acariciando. Nunca me esquecerei do grande carinho e amor que ela sempre me dedicou.

Para a jantar geralmente a tia fazia deliciosas sopas de leite.

Recordo também dos passarinhos, canários, periquitos, papagaios.... que eles criavam em enormes gaiolas, bem como da gostosa gasosa que eu podia tomar a vontade...pois eles ainda tinham naquela época a fábrica de Refrigerantes.

Tio Volkmar...

O tio Volkmar era uma pessoa muito especial. Viajava seguido a Panambi e redondezas a negócios e sempre nos visitava. Para nós, crianças, era uma alegria e festa quando isto acontecia. Ele aparecia com seus lindos carros, e levava a criançada passear pela cidade de Panambi, e sempre, tinha um dinheirinho no bolso para um gostoso sorvete e um chocolate.

Quando eu tinha apenas 11 anos fiquei um verão aprendendo o trabalho de escritório da Casa das Tintas, do tio Volkmar, em Santo Angelo. O tio e a família saíram em férias, eu fiquei ajudando, ou melhor incomodando o Elion Zancan, marido da prima Martha, que trabalhava no escritório. Imaginem, a canseira que eu devo ter dado no coitado...

Antes de viajar, o tio Volkmar me apresentou ao proprietário de um bar/restaurante e abriu uma conta-corrente no meu nome para eu poder comprar o "que eu quisesse". No retorno das férias ficou zangado comigo, porque eu comprei muito pouco na sua ausência. Ele era muito generoso, cavalheiro, gentil e querido. Tenho belas recordações do alegre e querido tio Volkmar...

Tio Heini....

O tio Heini foi um tio muito querido e admirado. Sempre cavalheiro e gentil. Quando o visitávamos sempre mostrava grande alegria e amor em nos receber.

Lembro do seu amor e orgulho pela família, por sua empresa, e pelo seu grande amor à Deus. Todas as manhãs, antes do café, lia a Bíblia, uma devoção e fazia também uma oração. Sempre tinha palavras de apoio, encorajamento e bons conselhos, tendo sempre consigo o apreciado chimarrão.

Tio Nicklaas...

O tio Nick foi com quem mais convivi de todos os meus tios. Tio Nicklaas, foi um verdadeiro pai para mim. Tenho grande amor, carinho, respeito e agradecimento para ele.

Quando em 1948 mudamos de Cruz Alta para Panambi, o tio Nicklaas deu-me pessoalmente uns presentes na nossa despedida. Um deles foi um estojo de lápis, pois eu faria o 1º ano na escola em Panambi. O meu estojosinho era o mais lindo e mais admirado por todos os alunos. Até hoje o guardo com muito carinho.

Outro presente que recebi dele na mesma ocasião foi um lindo e colorido ¨yo-yo¨. Quando sentia saudades dos Cruzaltenses, lá ia eu para um canto, brincar com o meu yo-yo... Fiquei muito "craque" neste brinquedo...

Fui muitas vezes a Cruz Alta visitar o tio Nicklaas e famiíia, o que eu adorava fazer. Tenho lindas e preciosas recordações... e aos 17 anos fui morar em Cruz Alta com eles. Trabalhava no escritório da Casa das Tintas e estudava a noite, na Escola Técnica de Comércio.

Muitas vezes, especialmente no inverno, ou quando chovia, aparecia o tio Nicklaas no portão da Escola com sua Kombi para me buscar as 11 horas da noite, e sempre oferecia carona para os meus colegas, que adoravam a idéia.

Tio Nicklaas e eu fomos grandes amigos, conversávamos bastante, tivemos muitos bate-papos inesquecíveis, troca de idéias e ele sempre me apoiou, dando bons conselhos e sendo um verdadeiro amigo.

A rotina domingueira dele era de acordar toda família com música, tanto alemã como clássica, antes do café e da ida a Igreja. Nós dois gostávamos muito de música, e eu adorava de ir com ele e a tia Gertrud aos concertos dos artistas que vinham para Cruz Alta, no Clube Cultura Artística. Até duetos, nos dois cantamos na igreja...

Tia Ida...

Nunca tive o prazer de conhecer a tia Ida pessoalmente, mas pelas cartas e pelo que minha mãe contava sobre ela e sua família na Alemanha, sempre me senti perto dela e a amava muito. Cada vez que chegava uma carta da tia Ida era um total silêncio enquanto minha mãe a lia em voz alta para a nossa família. Foi assim que convivemos um pouco com essa querida e distante tia.

Tia Lini....

Tia Lini foi também uma tia muito querida. Nos presenteava com muitas lembrancinhas, como cruzes de crochê que até hoje ainda temos e usamos em nossas Bíblias.

Em 1950 quando eu estava em Santo Angelo ela traduziu do alemão gótico para o moderno a poesia que o pai dela fez, pelo seu 14º aniversário . Então ela escreveu e dedicou esta poesia como lembrança do Opa, na primeira página do meu ¨Álbum de Recordações¨ Que linda e preciosa recordação...

Tia Lini também traduziu as muitas poesias do Opa do alemão gótico para o alemão moderno, e com isto nos deixou uma grande obra de amor...

Tia Juli...

Lembro com muito amor e carinho das minhas visitas em Ijuí. Guardo muito amor, carinho e admiração pela tia Juli. Era uma pessoa correta e de grande fé em Deus.

Em 1950 passei umas semanas de férias com a Família Reuwsaat. Foi um tempo maravilhoso. Como a Tia Juli só tinha filhos homens e eu fui sempre carinhosamente tratada como filha.

Tia Juli gostava de tudo lindo, bem organizado, toalhas lindas bordadas e engomadas na mesa, cortinas de crochê, lindas e aconchegantes almofadas... a decoração da casa no estilo alemão... à mesa cada pessoa tinha a sua ¨Serviette¨ - guardanapo - com um anel especial e todos nós tínhamos que ajudar nos afazeres da casa.

A tia Juli fazia os melhores docinhos...HUhmm... o cheirinho da cozinha da tia Juli era muito especial... Quando a porta da dispensa era aberta, por ser o lugar onde ela guardava os potinhos de anis, cravos, canela, essência de amêndoas... surgiam os mais gostosos aromas. São inesquecíveis recordações.

HAhm e os gostosos pães!!!! - Roggenbrot - pão integral, que a tia Juli fazia. Ela me contou que foi o tio Claas quem fez as formas redondas para os famosos e gostosos pães.

O tio Claas e a Tia Juli criavam uma cabra, para terem sempre leite fresquinho. O tio Claas fez uma carreta de madeira onde podia-se ficar dentro, e a "pobre" da cabra na frente puxava a carreta. Menno e Dettmer me levavam a passear. Imaginem nós passeando de carreta com a cabra pelas ruas de Ijui....

Tio Claas e os filhos faziam enormes pandorgas (pipas) de papéis coloridos, e nos íamos todos os dias empina-las, num enorme terreno baldio, num moro, no fundo da casa. Era uma grande alegria para nos todos quando a pandorga levantava vôo e subia mais alto do que o dia antes.

Havia um momento especial e tradicional... o Kopketee era servido todos os dias...às quatro horas da tarde e eu adorava tomar o chá com o açúcar ¨Kandis¨ que faz a -Teemusik a música do chá...com os saborosos docinhos da tia Juli... o Platdeutsch, dialeto da região de Ostfrisenland, era a forma como estes meus tios sempre se comunicavam...e a gente não conseguia entender...

A Oma..... Foske.... a Kleine Oma...

Nós a chamamos com amor e carinho de Kleine Oma, porque ela era de estatura pequena, comparada com a nossa outra Oma que nós chamávamos de Grosse Oma...

Lembro das viagens a Santo Angelo para visitá-la e da sua alegria quando nos recebia. Gostava de fazer gostosas comidas típicas alemãs, também gostosas ¨schmias¨ de frutas. Recordo que sempre havia alguma pessoa morando com ela. Lembro das filhas do tio Heini, as primas Marga, Käthe e Ani quando estudaram em Santo Angelo, também moraram com a Oma.

Oma e Opa tinham um banheiro com uma linda banheira, com água quente, aquecida com lenha. Que luxo!

Lembro de chegar em Santo Angelo de carro, e como as estradas não eram ainda asfaltadas, havia aquela "famosa poeira vermelha". Eu estava totalmente coberta da poeira vermelha, fui logo colocada naquela linda banheira e quando a Oma entrou viu a água vermelha riu muito e disse ao Opa que ele poderia fazer tinta vermelha desta água, como ele queria fazer tinta verde do mate... todos riram muito... foi um momento lindo, divertido e gostoso...

Seguidamente ela nos visitava em Cruz Alta e, mais tarde em Panambi. Gostava de ajudar, de cozinhar e fazer meias de tricot e especialmente cantar.

Ela ficou muito contente quando viu que eu estava aprendendo o alemão, pois durante a guerra tinha sido proibido a língua alemã e eu só aprendi aos 7 anos de idade. A Oma escreveu várias cartas para mim, e deixou uma linda dedicatória no meu Álbum de Recordações, escrita no dia 26 de Fevereiro de 1950, que guardo como uma preciosidade.

Lembro-me nitidamente quando chegamos em Santo Angelo para o enterro do Opa. Havia chegado para nós e também para o Tio Nicklaas, a noticia errada, por telefone no meio da noite, que a Oma havia falecido.

Fomos de Cruz Alta no carro, o famoso Studebaker, do tio Nicklaas, lotado com as duas famílias. Qual não foi nossa surpresa ao chegarmos esbaforidos na casa dos avos, lá estava a Oma sentada no seu cantinho predileto fazendo tricot. Foi um susto para a família inteira, porque todos estavam preparados para ver o Opa vivo, mas era ele que estava no caixão... sendo velado.

Lembro da Oma, como uma pessoa querida que gostava das coisas em ordem, era severa e exigente, era prestativa e sobretudo tinha uma grande fé e amava a Deus.

Muitas vezes ao anoitecer eu a ouvia cantar a canção - Abendfrieden - wie ist doch der Abend so traulich....

O Opa... Heinrich Menno Schüür...

Eu estava de "férias" do jardim de infância, visitando o Opa e Oma em Santo Angelo, quando tinha apenas 5 anos, lembro pouco daquela visita, mas o pouco que lembro ficou profundamente gravado na minha lembrança e no meu coração.

Como era costume, íamos todos os domingos para a Igreja Batista na Escola Dominical e depois ao Culto. Sempre passávamos antes na casa do tio Volkmar para buscar a prima Waldi. Então, contentes e orgulhosas, de mãos dadas com nosso Opa, íamos pelas ruas de Santo Angelo, tagarelando em português e em alemão.

No culto, como sempre, eu estava sentada no lado do meu Opa. Eu pouco entendia do alemão, mas entendia quando o Pastor pedia, como era costume, por voluntários para fazerem orações. Lembro o quando eu adorava ouvir o Opa rezar, e então pedi em português - "Opa reza" e de novo - "Opa reza" - insistindo de novo - até que ele fazia uma oração em voz alta.

Até hoje lembro da paz, conforto e alegria que sentia quando o meu Opa rezava. Seguidamente lembro destes momentos e, em horas difíceis da minha vida, me coloco mentalmente naquele lugar, quando tinha 5 anos, para sentir a forte e gentil mão do Opa... e procuro aquela paz, aquele conforto que sentia ao lado do meu Opa, quando ele rezava...

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