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HISTÓRIAS DA VIDA DE ANNY SCHÜÜR WEGERMANN

Relatado por Anelise, filha de Anny

Em 1916, quando tinha aproximadamente  4 anos de idade, foi com sua mãe visitar o pai que estava hospitalizado em Aschaffenburg durante a Primeira Guerra Mundial. Esta foi a primeira lembrança marcante da sua vida.

Ani foi uma criança alegre e teve uma infância feliz na Alemanha, mesmo com todas as dificuldades que a família passou. Este espírito alegre e aventureiro permaneceu com ela durante toda sua vida.

Da viagem de navio vindo da Alemanha para o Brasil, em janeiro de 1924, contava que ficou muito doente, apesar disso adorou a viagem. Teve a oportunidade de brincar com as outras crianças, freqüentar as horas bíblicas e cantar. Gostou imensamente do “apartamento” no navio. Desembarcaram no porto de Rio Grande e o dia estava muito quente. Comeu pela primeira vez melancia e feijão preto, gostou muito, mas adoeceu do estômago por muitos dias. Esta foi a “introdução” da Ani no Brasil. Em Linha República, hoje Guarani das Missões, com o calor de verão desconhecido, foram logo conhecendo os mosquitos, os borrachudos, os gafanhotos e os famosos bichos de pé!

No dia 25 de Julho de 1924, no ano que a Família Schüür imigrou para o Brasil, foi celebrado os “100 anos da Imigração Alemã ao Brasil". O pai Heinrich, que foi um também um poeta, compôs poesias alusivas a data, para suas filhas Ani e Clara recitarem nas festividades comemorativas.

Aos domingos pela manhã a família ia, de carroça, ao culto na Igreja Batista, e após Escola Dominical. À tarde, Ani, Volkmar, Heinrich e Engeline (Lini) freqüentavam a Juventude. A Clara, não podia acompanhá-los, pois só podiam participar com 14 anos de idade. Clara então voltava sempre triste com os pais para casa ou visitavam outras famílias.

Ani também gostava de compor poesias. Tinha uma grande habilidade de decorar e também recitar. Decorava semanalmente versículos bíblicos para a Escola Dominical. Sabia de cor inúmeros versos, hinos, canções e poesias até na sua velhice.

Cantava no coro e foi atriz em varias apresentações teatrais. Às vezes a encontravam no galpão recitando poesias, dedicando canções e  cantando para seu auditório especial - as vacas - que provavelmente também adoravam a atenção que recebiam dela. Que imaginação!

Ani, uma jovem linda, comunicativa e alegre, floresceu na cidade. Adaptou-se muito bem na Juventude da Igreja Batista. Foi ativa no Clube Alemão de Santo Angelo, hoje chamado de Clube Caixeral. Cantou no Coral Misto, participou nas apresentações teatrais e freqüentou as atividades do Clube.

Toda a família gostava de cantar e quando juntos cantavam hinos e canções alemãs. A canção, “Woh die Nordsee Wellen rauschen am dem Strand” era cantada, em Platdeutsch, e às vezes com muitas lágrimas. Deviam  ser de saudades e pelas belas recordações da pátria distante.

Ani gostava de teatro. Aqui como atriz, cuja peça tinha cenário criado pelo opa Heinrich

Quando estava na escola de costura em Santo Angelo, ainda solteira, um dia, Ani pensando que já sabia muito bem o português fez a tradução literal de "Fingerhut", pedindo por um "chapéu de dedo" para a professora em vez de um "dedal".

Aconteceram alguns problemas  com os imigrantes alemães no Brasil, devido a II Guerra Mundial, ao  registrarem o nome dos filhos, como os que relatamos a seguir: Anelise ( Ana Elisa Gertrudes)  nasceu em 1941, na casa dos avós, em Santo Ângelo, na Rua Antunes Ribas, onde eles, os avós, viveram até o fim de suas vidas. Hoje foi construído  um enorme edifício no lugar da  casa. Anneliese Gertrud  seria o seu nome mas quando Emil foi fazer o registro de nascimento no cartório em Santo Ângelo não o aceitaram por ser alemão. Sendo  registrada como Ana Elisa Gertrudes tornando o nome português, mas nunca foi chamada por este nome, mas sempre como Anelise.

Quando Lore Foskea, sua segunda filha nasceu em Cruz Alta , em 1946,  também não foi aceito no cartório o nome que queriam lhe dar - Annelore Foske. Ficando seu nome Lore Foskea .

Já quando Henrique Emilio (Heini), nasceu, em 1948,  recebeu os primeiros nomes em português, como uma homenagem aos dois avós.

Ani tinha muitos dons e uma grande imaginação. Um dele foi o seguinte: por muitos anos refazia as bonecas das filhas para o Natal. "Marta", a boneca de Anelise desaparecia e no Natal ela ganhava uma "nova" boneca, e cada ano com um novo tipo de cabelo, uma vez louro,  preto ou castanho, mas sempre comprido, e sempre de vestidinho novo.  Ani fazia uma peruquinha, do tamanho da cabeça da boneca, costurando em camadas de cabelos naturais, depois colava a peruquinha e fazia um corte de cabelo final.  Anelise, num Natal, descobriu que a “nova” boneca era sempre a mesma através de uma pequena marca no pé. Este foi um segredinho de Ani e Anelise por longo tempo, pois isto acontecia também com as bonecas das irmãs.

Ani fazia os dias de festas muito especiais para seus filhos. Natal, Páscoa, aniversários eram sempre ocasiões para celebrações típicas, incorporando as tradições que lhe eram caras, e que nós até hoje preservamos.

As quatro semanas de Advento eram especiais, não só para seus filhos mas também para as crianças vizinhas. Acendia-se as velas do "Adventskranz", hinos de Natal eram cantados e depois saboreava-se os gostosos docinhos e chocolates  que  Ani havia  feito.Falava-se do significado  do Natal. Ani fazia questão de todos os dias, naquele calor de Dezembro, cantar a canção "Leise rieselt der Schnee" e muitas vezes víamos lágrimas nos seus olhos. Nós não conhecíamos neve naquela época, mas imaginávamos de como deveria ser lindo brincar na neve e vê-la cair lentamente deixando tudo branco... Aprendemos e gostamos desde crianças da "Ostfriesische Gemütlichkeit", a Comodidade Frisia, que a mãe Ani adorava.Nos ensinou, com muita pompa e prazer, como fazer um chá na "Ostfriesische Art" - à maneira frísia, o kopketee com açúcar cristalizado e nata.

Na sua cozinha, Ani sempre tinha os jarros especiais cheios com os seus famosos "chocolate chip cookies" (docinhos com pedacinhos de chocolate) para todos saborearem, até hoje ninguém consegue fazê-los tão gostosos como ela os fazia.

Ani aprendeu a fazer colchas em Reedley. Fez colchas para todos os filhos e netos, conjuntos de mesa de crochê e bordou jogo de toalhas de cozinha, que muitas vezes também eram dados como presentes de casamento ou aniversário. Todos apreciaram estas lindas lembranças da Omi. Quando Ani faleceu, ainda estavam guardados muitos conjuntos de mesa de crochê e toalhas que Ani tinha feito para os netos. Uma grande obra de amor.

 

Em Reedley ela começou uma tradição, reunia mensalmente para um almoço, às vezes 8 ou 10 amigas. Faziam colchas de restos de tecidos, conversavam muito, almoçavam e depois tomavam café. Ani se deliciava com estas atividades. Pertencia também a um grupo de amigas da Igreja Menonita que fazia colchas a mão, e depois  leilões  para arrecadar dinheiro para os missionários. Ani adorava ajudar, estar com as amigas e ser útil, aprendeu bem este hobby e ao mesmo tempo aprimorava  o seu  inglês.

 Ani jogava regularmente Triominos (jogo de 56 ladrilhos triangulares, como dominós, mas com 3 cantos) e Rote Elf (jogo de cartas)  com as amigas e amigos, ela ensinou este joguinho a muitos. Como também presenteou amigos e parentes com estes jogos. 

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Ani gostava de teatro. Aqui como atriz, cuja peça tinha cenário criado pelo opa Heinrich

Nós, seus filhos, temos engraçadas e saudosas recordações dela, pois às vezes confundia as três línguas, o que ficava muito divertido. Quando voltava das visitas ao Brasil, misturava ainda mais o português com o inglês e vice-versa, achando que estava falando alemão. Não se zangava  quando ríamos dela,  e ria conosco. Ela tinha um espírito alegre e era extrovertida, gostava de conversar com todos. Falava português com os mexicanos no trabalho. Às vezes falava alemão e estava certa que estava falando inglês, ou falando português, misturado com alemão, achando que era inglês. Tanto que foi carinhosamente apelidada pela sua sobrinha Marianne, no Brasil, por “Tante Maybe”, pois usava esta palavra inglesa nas três línguas que falava.

Como Ani aprendeu a dirigir em Reedley, com 55 anos, um dos carros que compraram era um Volkswagen.  Ani adorava aquele carro. Em Reedley já era conhecida com seu fuquinha vermelho, e às vezes causava alguns “probleminhas” no trânsito...Graças a Deus, sem gravidade...

Até de moto topava a parada...

Foi muito divertido conviver com a nossa mãe Ani.

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