top of page

UM DIA DEPOIS DO OSCAR...

Por José Clemente Pozenato

Historia Germano oscar.jpg

Para curar a ressaca do Oscar, nada melhor do que um passeio por Los Angeles e redondeza. Os dias têm sido sempre ensolarados e a temporada mais ou menos como a da serra gaúcha nesta época do ano. Um arzinho frio durante o dia, e à noite, a necessidade de um casaco. Saímos no carro da Lore - uma gaúcha com quase trinta anos em Los Angeles e que, com seu sempre afável Willi Schwarz, me tem tratado com o carinho de novo membro da família e as regalias de hóspede (por sinal, estou escrevendo no computador do Andreas, filho deles, que navega daqui pelas ondas da Internet) - na direção das ilhas do litoral.

Pozenato, Germano e Lore - O Quatrilho, Oscar 96

A primeira impressão que se tem com Los Angeles é de que é uma cidade conhecida. Aos poucos vai-se descobrindo por que. Não apenas as free-ways que se desdobram em todas as direções, mas também inúmeros lugares e prédios são freqüentadores assíduos das telas de cinema. Quase tudo aqui já foi set de filmagem: hotéis, escolas, bairros, trapiches, ruas, estradas, etc. O interessante é que esta cidade realmente vive o cinema. As pessoas aqui vêem os últimos lançamentos, comemoram quando são convidadas como público teste de um novo filme, acompanham passo a passo a festa do Oscar e reverenciam todos os que têm alguma coisa a ver com cinema, sem falar que as casas de projeção rivalizam para oferecer imagem e som de primeira qualidade. Sentindo todo esse clima, a gente percebe o quanto é difícil fazer cinema no Brasil e o quanto O Quatrilho foi uma verdadeira façanha, uma espécie de flor nascida no deserto, que aliás está bem perto daqui.

Mas, voltando ao passeio, fiquei conhecendo a ilha de Balboa e outras ilhas vizinhas que já valeriam ser visitadas apenas pelo cenário. Comemos uma sopa de ostras no Crab Cooker que duvido existir em alguma outra parte. Contam como um dos orgulhos do restaurante que o presidente Nixon tentou uma vez comer ali num fim de semana e foi mandado para o fim da fila como todo o mundo, uma fila que dobrava o quarteirão. A garçonete que nos contou a história me olhou com ar divertido e completou: "Mesmo que o senhor ganhe o Oscar no ano que vem, vai ter que entrar na fila". Aliás, bastava a Lore contar que estávamos aqui por causa da participação no Oscar para vermos sorrisos se abrirem e a proverbial formalidade americana se desmanchar em cordialidade. Uma senhora, que calculo tenha seus oitenta anos, que nos atendeu na sua lojinha de T-shirts, disse com ar brincalhão: "sou uma artista frustrada". Mas no olhar que me dirigiu senti assim como uma espécie de última esperança de que o sonho poderia ainda ser possível.

É assim que Los Angeles me parece. Uma cidade em que tudo conspira a favor do cinema. Eles têm até a casa de John Wayne que, por sinal, não é um rancho no estilo dos vaqueiros do Oeste. É uma casa numa ilha de onde ele poderia enxergar iates e barcos de vela de qualquer janela que olhasse. Seria ele um velho marinheiro, em vez de um caubói ?

bottom of page